Em meio a uma extensa lista de composições
musicais e trabalhos escritos, Raymond Murray Schafer, nascido em 18 de julho
de 1933, desenvolve trabalhos como compositor, escritor, educador musical e
ambientalista. Alcançou reputação internacional principalmente por seu World
Soundscape Project (Projeto Paisagens Sonoras do Mundo). Suas teorias de
educação musical são seguidas no mundo todo.
Schafer estudou no Royal Conservatory of Music e
na University of Toronto e na Royal College of Music - RMC, de Londres. Sua
extensa e importante obra lhe conferiu vários prêmios como o de Compositor do
Ano do Canadian Music Council, em 1977 e o primeiro prêmio Jules Léger de New
Chamber Music, em 1978. Prêmio Internacional Arthur-Honegger em 1980; Prêmio
Nacional Banff CA nas Artes em 1985; Prêmio Glenn Gould em 1987.
Através de doações da UNESCO e da Donner
Canadian Foundation, montou um estudo sobre as relações entre pessoas e seu
ambiente acústico, o World Soundscape Project. No início da década de 1960,
Schafer baseou-se no serialismo e explorou a mitologia e o simbolismo da vida
moderna, resultando em estudos sobre os temas urbanos da alienação e da
psiconeurose.
Schafer revelou em seu trabalho uma ampliação do
limite estilístico e linguístico, além de uma forte consciência social motivadora
de suas atividades e criações. Nas salas de aula do Canadá, seu envolvimento na
educação musical resultou em experiências de introdução aos conceitos de
audição criativa e percepção sensorial de John Cage. Suas fontes de inspiração sonora são
ricamente diversificadas e pouco ortodoxas. É conhecido como o "pai da ecologia
acústica", pela preocupação com os efeitos prejudiciais do ruído sobre a natureza e as
pessoas.
Schafer incentiva os artistas a aproveitar as riquezas do ambiente e das culturas locais. Seus trabalhos dramáticos, chamados de “teatro da confluência”, integram música e teatro. Alguns de seus importantes trabalhos são O Minnelieder, com sua atmosfera Mahleriana, que na opinião de Schafer foi sua primeira conquista importante – Statement in Blue, Threnody e Epitaph for Moonlight, que introduzem sons incomuns durante o processo criativo a jovens músicos – World Soundscape Project – Music for Wilderness Lake – Apocalypsis, que exige 500 artistas – Patria, um ciclo de 12 partes de obras musicais/teatrais – The Enchanted Forest e The Palace of the Cinnabar Phoenix, realizados na Floresta Haliburton em 2005 e 2006 – Cartas de Mignon e Trovão de 2007, aclamadas pela crítica.
Entre suas publicações, podemos citar A Nova
Paisagem Sonora (1968) - O Livro do Ruído (1970) - Rinoceronte na Sala de Aula
(1975) - Educação Musical Criativa: Um Manual para o Professor de Música
Moderna (1976) - A Afinação do Mundo (1977) - O ouvido pensante: sobre educação musical (1986) - Uma
educação sonora: 100 exercícios de escuta e produção de som (1992).
Segundo Schafer, ouvir música é uma experiência
muito pessoal, sendo muito corajoso o indivíduo que segue por caminhos não
convencionais, experimentando a musicalidade divergente dos costumes sociais
que o cercam. Nesse ponto, ressalta que a curiosidade em relação à música abre
caminhos para aquisição de novos horizontes e descobertas.
Schafer desenvolve muitos dos seus trabalhos,
segundo conceitos da Ecologia Sonora, e desperta questionamentos a respeito de
como tratamos a paisagem sonora na contemporaneidade, quanto os ruídos
produzidos nas grandes cidades poluem e afetam a audição humana, a importância
do silêncio para a percepção dos sons formadores do ambiente sonoro, a limpeza
dos ouvidos, a improvisação e a revisão de conceitos musicais.
A Ecologia Acústica é o estudo do ambiente por
meio dos sons que nele ecoam. Cada ambiente selvagem do planeta, como a
Floresta Amazônica, a Mata Atlântica ou o Pantanal, produzem uma composição
sonora única. Alterações na harmonia sonora destes locais indicam problemas
ambientais. Assim, o estudo da paisagem sonora é importante para avaliar a
saúde de um determinado habitat.
Quando pensamos em paisagem, automaticamente
imaginamos algo visual, uma produção imagética. Acontece que Schafer trabalha o
Ouvido Pensante, construindo imagens mentais através dos sons constantes no
ambiente, frequentado ou estudado. O aluno é levado a pensar através do ouvir. Paisagem
Sonora é a construção de um local a partir de uma ou mais sonoridades. Povos e
lugares diversos apresentam paisagens sonoras distintas.
Na atualidade, nossa percepção visual está muito
mais desenvolvida do que nossa percepção sonora. Tente imaginar uma floresta,
uma praia ou o centro urbano da cidade de São Paulo... Quais sons surgem em sua
mente? Schafer apresenta em suas pesquisas a importância da limpeza dos ouvidos
e de reaprendermos a ouvir e a escutar. A alta quantidade de ruídos produzidos
pela civilização atual, como buzinas, sirenes, barulho de motores e máquinas
prejudicam muito nossa audição.
O ruído pode ser explicado como um som desagradável ou indesejável no contexto no qual é percebido. Assim, o canto produzido por um bando de pássaros pode ser um som agradável, durante um passeio pelo parque, mas pode se tornar ruído quando tentamos nos concentrar para fazer uma prova, dormir ou ouvir algo do nosso interesse.
Como educadores, podemos estimular as crianças a perceberem e identificarem diferentes sons, nos diversos ambientes em que vivem, através de atividades bastante simples. As crianças podem gravar sons nos vários locais da escola, como pátio, quadra e corredores, para ouvir posteriormente e realizar uma análise crítica dos sons. Tal atividade facilita o entendimento do que vem a ser a paisagem sonora do local.
PAISAGEM SONORA - ECOLOGIA ACÚSTICA - FAPESP
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