“A Língua das Mariposas” mostra os efeitos do fascismo dentro da Espanha e expõe a guerra como fator degenerativo entre as relações humanas. O filme foi Indicado a 13 prêmios Goya, o Oscar espanhol, se sagrando vitorioso no item roteiro adaptado.
Espanha,
1935. Moncho, vivido por Manuel Lozano, é um garoto de sete anos que se prepara
para defrontar o maior desafio de sua tenra vida, sua ida pela primeira vez a
uma escola. Este é um momento difícil para o menino, principalmente por achar
que o Professor poderá castigá-lo caso cometa algum erro ou engano. Diferente
do que imaginava, o mestre Don Gregório, vivido por Fernando Fernán Gomes,
torna-se uma felicíssima surpresa, já que se mostra sempre sereno, altivo e
elegante. O Professor jamais utilizaria métodos agressivos com seus alunos,
independentemente dos problemas que pudessem surgir, sendo este, um modo
contrastante aos posicionamentos mais fortes e autoritários dos demais
professores da sua época.
O
filme tem seu foco na relação entre professor e aluno. O menino logo se
apaixona pela escola e pela figura do Professor, que juntos constroem um forte
laço de amizade e carinho. Don Gregorio passa aos alunos não somente teorias,
ele os ensina novas posturas, respeito, sensibilidade e também sobre a
importância de se ter e preservar ideais. Todos os alunos se encantam com as
histórias contadas pelo velho mestre, principalmente “gorrión”, pardal em
português, nome utilizado por Don Gregorio para o pequeno Moncho. O ápice do
encantamento de Moncho, nas aulas, se dá por meio de algumas explicações do
Professor sobre a natureza, que dentre outras, citava a existência da língua das
mariposas. Posteriormente, os alunos puderam observar a realidade do fato
narrado por Don Gregorio em uma de suas aulas dadas ao ar livre.
Paralelamente aos acontecimentos
escolares, o menino acompanha as ocorrências cotidianas da tranquila cidade
onde vive. Como a entrada de seu irmão Andrés como saxofonista da “Orquestra
Azul”, que acabaria por lhes proporcionar uma bela excursão com a própria
banda.
Aos poucos, o clima suave do filme é
trocado pela apresentação do turbulento quadro social e político que definem a
ascensão do fascismo na Espanha, na qual se aliaram a Igreja Católica e o
Exército. Próximo ao final do filme, homens armados começam a prender aqueles
cujo único erro fora seus posicionamentos políticos, divergentes do regime
implantado. Isso trouxe a tona um clima de terror e medo, sendo uma situação
totalmente contrária às lições de liberdade e amor ensinadas por Don Gregório.
O Professor acaba por tornar-se também um dos detidos, protagonizando um
momento de grande tristeza no filme.
No
final, para fugir de uma possível prisão, até mesmo os pais de Moncho que
gostavam muito do Educador, fingiram repudia a ele. Seu pai, um Alfaiate
republicano contrário ao regime que se instalara, teve que esbravejar e
blasfemar contra Don Gregorio e os demais capturados, mesmo que em prantos,
tanto por sua atitude contra tão honradas pessoas quanto pela recusa de seus
princípios. A mãe de Moncho exige que ele faça o mesmo com seu amado professor
e assim, seguindo a ordem materna, vai atrás do caminhão que leva a figura
triste de Don Gregorio, esbravejando inicialmente, Ateu! Comunista! Mas em
seguida, arrependido, pois não queria falar aquilo, sai correndo atrás do
veículo com muitas lágrimas e grita “Tilonorrinco!” Nome de um pássaro
australiano, e “Tromba espiral!” Que seria a língua das mariposas, ambos os
termos aprendidos nas aulas de Don Gregorio, sugerindo que nunca esqueceria o
tão amado Professor e o que lhe fora ensinado.
O
filme é um ótimo referencial a futuros educadores assim como ao público em
geral, sendo uma interessante e bonita abordagem sobre o tema “Educação” e a
relação entre professor e aluno. A
fotografia do longa metragem é linda e somada à interpretação de Fernando
Fernán Gómez, que é primorosa, torna o filme indispensável de ser visto. Outro
ponto forte do vídeo é a demonstração de como um poder tirano e totalitário
pode em pouco tempo destruir toda beleza de uma democracia e a vida de pessoas
boas e honradas.
Não
posso dizer que é há um ponto negativo no filme, em relação a sua dinâmica,
atuação dos envolvidos ou outro item qualquer da produção. Negativo, mas
totalmente verdadeiro é o problema vivido por Don Gregorio, que retrata no
filme o triste final de muitas pessoas, caso dos torturados da “nossa” ditadura
e de tantos outros pelo mundo afora, que apenas queriam poder pensar e
expressar-se livremente.
Por
fim, “A Língua das Mariposas” é um filme maravilhoso e indispensável de ser
assistido, tanto para entretenimento quanto para uma possível análise e
observação do papel de Educador perante a sociedade, servindo ainda para exames
em torno de problemas político-sociais que envolvem as sociedades em geral,
como a guerra, a ditadura brasileira e demais regimes políticos tiranos e
totalitários.
Fernando
Fernán Gómez
O
ator Fernando Fernán Gómez, professor Don Gregorio, morreu no dia 22 de
novembro de 2007 aos 86 anos em Madri. Ator de cinema e teatro, escritor,
roteirista e diretor, Goméz é considerado uma das figuras de destaque do cinema
espanhol. Durante sua carreira atuou em quase 170 filmes. Como ator, trabalhou
com os principais diretores espanhóis, como Pedro Almodóvar entre outros. Como
diretor, filmou 27 longas metragens para o cinema e para a televisão. Foi agraciado
com o prêmio Príncipe das Astúrias das Artes em 1995, os Nacionais de Cinema e
Teatro, a Medalha de Ouro da Academia do Cinema, três prêmios Goya, sendo ainda
eleito em 1998, membro da “Real Academia das Artes” da Espanha.
Filmografia
- José Luis Cuerda. A Língua das Mariposas. Espanha, 1999. 95 min.
Bibliografia Complementar
- http://www.planetaeducacao.com.br/portal/artigo.asp?artigo=211 - último acesso 14/04/2010
- http://cinema.yahoo.com.br/dvd/filme/10228/alinguadasmariposas - último acesso 14/04/2010
- http://www.cineplayers.com/filme.php?id=2786 - último acesso 14/04/2010
- http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u347486.shtml - último acesso 14/04/2010
- http://www.educacaopublica.rj.gov.br/cultura/cinema_teatro/0029.htm - último acesso 14/04/2010
Vou procurar assistir. Esses temas nunca devem ser esquecidos.
ResponderExcluirTem toda razão. Devemos aprender com erros do passado, tanto individualmente quanto coletivamente. Isso é um dos muitos caminhos para um futuro melhor.
ExcluirAbraços.