segunda-feira, 15 de abril de 2013

A LÍNGUA DAS MARIPOSAS

“A Língua das Mariposas” mostra os efeitos do fascismo dentro da Espanha e expõe a guerra como fator degenerativo entre as relações humanas. O filme foi Indicado a 13 prêmios Goya, o Oscar espanhol, se sagrando vitorioso no item roteiro adaptado.

Espanha, 1935. Moncho, vivido por Manuel Lozano, é um garoto de sete anos que se prepara para defrontar o maior desafio de sua tenra vida, sua ida pela primeira vez a uma escola. Este é um momento difícil para o menino, principalmente por achar que o Professor poderá castigá-lo caso cometa algum erro ou engano. Diferente do que imaginava, o mestre Don Gregório, vivido por Fernando Fernán Gomes, torna-se uma felicíssima surpresa, já que se mostra sempre sereno, altivo e elegante. O Professor jamais utilizaria métodos agressivos com seus alunos, independentemente dos problemas que pudessem surgir, sendo este, um modo contrastante aos posicionamentos mais fortes e autoritários dos demais professores da sua época.

O filme tem seu foco na relação entre professor e aluno. O menino logo se apaixona pela escola e pela figura do Professor, que juntos constroem um forte laço de amizade e carinho. Don Gregorio passa aos alunos não somente teorias, ele os ensina novas posturas, respeito, sensibilidade e também sobre a importância de se ter e preservar ideais. Todos os alunos se encantam com as histórias contadas pelo velho mestre, principalmente “gorrión”, pardal em português, nome utilizado por Don Gregorio para o pequeno Moncho. O ápice do encantamento de Moncho, nas aulas, se dá por meio de algumas explicações do Professor sobre a natureza, que dentre outras, citava a existência da língua das mariposas. Posteriormente, os alunos puderam observar a realidade do fato narrado por Don Gregorio em uma de suas aulas dadas ao ar livre.

Paralelamente aos acontecimentos escolares, o menino acompanha as ocorrências cotidianas da tranquila cidade onde vive. Como a entrada de seu irmão Andrés como saxofonista da “Orquestra Azul”, que acabaria por lhes proporcionar uma bela excursão com a própria banda.

Aos poucos, o clima suave do filme é trocado pela apresentação do turbulento quadro social e político que definem a ascensão do fascismo na Espanha, na qual se aliaram a Igreja Católica e o Exército. Próximo ao final do filme, homens armados começam a prender aqueles cujo único erro fora seus posicionamentos políticos, divergentes do regime implantado. Isso trouxe a tona um clima de terror e medo, sendo uma situação totalmente contrária às lições de liberdade e amor ensinadas por Don Gregório. O Professor acaba por tornar-se também um dos detidos, protagonizando um momento de grande tristeza no filme. 

No final, para fugir de uma possível prisão, até mesmo os pais de Moncho que gostavam muito do Educador, fingiram repudia a ele. Seu pai, um Alfaiate republicano contrário ao regime que se instalara, teve que esbravejar e blasfemar contra Don Gregorio e os demais capturados, mesmo que em prantos, tanto por sua atitude contra tão honradas pessoas quanto pela recusa de seus princípios. A mãe de Moncho exige que ele faça o mesmo com seu amado professor e assim, seguindo a ordem materna, vai atrás do caminhão que leva a figura triste de Don Gregorio, esbravejando inicialmente, Ateu! Comunista! Mas em seguida, arrependido, pois não queria falar aquilo, sai correndo atrás do veículo com muitas lágrimas e grita “Tilonorrinco!” Nome de um pássaro australiano, e “Tromba espiral!” Que seria a língua das mariposas, ambos os termos aprendidos nas aulas de Don Gregorio, sugerindo que nunca esqueceria o tão amado Professor e o que lhe fora ensinado.

O filme é um ótimo referencial a futuros educadores assim como ao público em geral, sendo uma interessante e bonita abordagem sobre o tema “Educação” e a relação entre professor e aluno.  A fotografia do longa metragem é linda e somada à interpretação de Fernando Fernán Gómez, que é primorosa, torna o filme indispensável de ser visto. Outro ponto forte do vídeo é a demonstração de como um poder tirano e totalitário pode em pouco tempo destruir toda beleza de uma democracia e a vida de pessoas boas e honradas.

Não posso dizer que é há um ponto negativo no filme, em relação a sua dinâmica, atuação dos envolvidos ou outro item qualquer da produção. Negativo, mas totalmente verdadeiro é o problema vivido por Don Gregorio, que retrata no filme o triste final de muitas pessoas, caso dos torturados da “nossa” ditadura e de tantos outros pelo mundo afora, que apenas queriam poder pensar e expressar-se livremente.

Por fim, “A Língua das Mariposas” é um filme maravilhoso e indispensável de ser assistido, tanto para entretenimento quanto para uma possível análise e observação do papel de Educador perante a sociedade, servindo ainda para exames em torno de problemas político-sociais que envolvem as sociedades em geral, como a guerra, a ditadura brasileira e demais regimes políticos tiranos e totalitários. 

Fernando Fernán Gómez

O ator Fernando Fernán Gómez, professor Don Gregorio, morreu no dia 22 de novembro de 2007 aos 86 anos em Madri. Ator de cinema e teatro, escritor, roteirista e diretor, Goméz é considerado uma das figuras de destaque do cinema espanhol. Durante sua carreira atuou em quase 170 filmes. Como ator, trabalhou com os principais diretores espanhóis, como Pedro Almodóvar entre outros. Como diretor, filmou 27 longas metragens para o cinema e para a televisão. Foi agraciado com o prêmio Príncipe das Astúrias das Artes em 1995, os Nacionais de Cinema e Teatro, a Medalha de Ouro da Academia do Cinema, três prêmios Goya, sendo ainda eleito em 1998, membro da “Real Academia das Artes” da Espanha.


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Filmografia
  • José Luis Cuerda. A Língua das Mariposas. Espanha, 1999. 95 min.
Bibliografia Complementar

domingo, 7 de abril de 2013

O ENIGMA DE KASPAR HAUSER

O relatório que irei disponibilizar agora aborda o filme “O Enigma de Kaspara Hauser” de 1974 com duração de 110 minutos.

As Palavras-chave deste texto são: Kaspar Hauser; Werner Herzog; Comportamento humano; Filosofia; Psicologia; Sociologia; Linguagem; Socialização; Aprendizagem; Durkheim; Fato social;

O título original do filme, traduzido em português seria “Cada Um Por Si E Deus Contra Todos”, mas fora lançado com o nome supracitado. O diretor Werner Herzog relata através do filme, que é baseado em fatos reais, a história de Kaspar Hauser, personagem interpretado por Bruno S., que nunca foi ator profissional e passou toda sua juventude em instituições para doentes mentais. Werner questiona em seu filme de maneira contundente a teoria da tabula rasa, base tanto do empirismo quanto do behaviorismo e vai a fundo na temática do comportamento humano e da sociedade, criando diversos focos de discussão, sejam do campo psicológico, sociológico ou filosófico. O longa metragem ganhou prêmio especial do júri em Cannes.

Resumidamente, o filme traz a história de um homem que após seu nascimento viveu preso em uma cela, onde permaneceu até o dia de Pentecostes do ano de 1828, quando fora deixado numa Praça de Noremberg, portando uma carta ao capitão da cidade. Além da carta, que explica parte de sua história, tinha um pequeno livro de orações e outros itens que indicavam uma provável descendência nobre. Supostamente com 15 anos, não sabia falar, andar e nem mesmo se comportar como um ser humano.
Kaspar Hauser, nome que lhe foi atribuído, não conseguia discernir entre realidade e sonho, não conhecia o medo, e nem entendia que uma maçã não tinha vida própria, fato este, relatado de forma divertida no filme.

Kaspar virou atração circense e depois foi morar com um senhor da cidade, sendo que nesta época consegue ascensão social e quase é adotado por um nobre, que acabou por desistir da ideia devido a seus modos rústicos. 
Kaspar Hauser escreveu em fevereiro de 1829 sua autobiografia e em Dezembro de 1833, fora assassinado nos jardins do palácio de Ansbach, com uma facada no peito. As circunstâncias, motivações e autoria do crime jamais foram esclarecidas, apesar da recompensa oferecida pelo rei Luís I da Baviera.

Em sua exumação descobriu-se anomalias no lóbulo esquerdo do fígado e no cérebro, o qual havia um maior desenvolvimento de tamanho do hemisfério direito em relação ao esquerdo e que teoricamente explicaria seus consideráveis avanços no campo da música e no aprendizado de tocar piano.

As anomalias encontradas em Kaspar Hauser foram apontadas como sendo as principais razões para sua estranha forma de ser, explicação esta, aceita por toda sociedade da época como resposta ao enigma. O filme termina com o escrivão da cidade feliz, por finalmente poder redigir sobre o assunto, tendo agora, um porque da existência de tão enigmático personagem.

O filme é muito interessante com vista no tema abordado. A caracterização dos personagens e a atuação de Bruno S., junto com a fotografia e música do filme são muito positivas, abrilhantando a composição do enredo e do clima sentimental da filmagem.  Também é positivo o fato do filme ter sido produzido de forma diferente dos longas metragens Hollywoodianos.

Como ponto negativo, posso dizer que o filme é muito melancólico. Há grandes pausas nas cenas tornando-as bastante lentas e um pouco cansativas. Ainda sim, é um filme que vale a pena ser assistido, para conhecimento e observação de tão curioso e intrigante fato social e humano, principalmente por futuros Psicólogos e Educadores, os quais atuam diretamente com diferentes tipos de pessoas e suas divergentes cargas psicológicas.





As imagens a seguir são trechos do filme que retratam diferentes épocas da vida de Kaspar Hauser. Seu cárcere, a época onde já estava socializado e os instantes finais do longa metragem e consequentemente da vida de Hauser.





  • Werner Herzog. O Enigma de Kaspar Hauser (Jeder für Sich und Gott Gegen Alle). Alemanha, 1974. 110 minutos.

Bibliografia Complementar